-
Arquitetos: Estúdio Cláudio Resmini
- Área: 90 m²
- Ano: 2023
-
Fotografias:Roberta Gewehr
Descrição enviada pela equipe de projeto. Uma serie de “agradáveis coincidências“ foram responsáveis pelo conceito deste projeto. A cliente, arquiteta de formação, não atuante, filha de um dos três principais arquitetos modernistas responsáveis pelo criação do Movimento Moderno na arquitetura Gaúcho, o Arquiteto e Professor Cláudio Araújo. A coincidência aqui é Cláudio Araújo ter sido meu último professor e orientador no curso de Arquitetura. Tudo isso sublimado pelo apartamento estar em um dos primeiros edifícios em estilo moderno de Porto Alegre, datado de 1958 de autoria de outro grande modernista gaúcho, o Arquiteto Castellar Peña.
Todas estas características orbitando no projeto, somadas a um significativo acervo que vai de peças de família do século XIX ,a outras de mobiliário modernistas italianas ou desenhadas pelo pai e obras de artistas plásticos Gaúchos , só fizeram estimular um olhar espacial e formal despojado e atemporal para este projeto.
Localizado no 10 andar de uma rua do centro antigo de porto Alegre, próxima ao Rio e com vista privilegiada de uma das nossas catedrais mais icônicas, a Igreja das Dores, o apartamento de 90m se dispõe em uma planta retangular longilínea com uma posição solar invejável de duas laterais livres, sendo no sentido longitudinal a Leste e a frente a Norte. Com estas características condicionantes de espaço e da cliente, a melhor opção seria abri-lo totalmente e transformar o apartamento de 3 quartos em um estúdio. Isso nos daria um domínio visual de todo o apartamento e da paisagem do entorno em qualquer ponto que estivéssemos, além de criar um espaço ventilado e com o sol da manhã e e da tarde principalmente no húmido inverno gaúcho.
As poucas paredes que se mantiveram foram pensadas de forma a criar um movimento volumétrico se descolando umas das outras ora como paredes ora como volumes que se limitassem a altura das vigas. Estas paredes e volumes nos proporcionaram suportes independentes, criando uma configuração espacial quase museográfica para as obras herdadas.
A partir desta definição foi fácil escolher os materiais que seriam o elo de ligação entre os anos 50 e os contemporâneos anos 20. Vigas e pilares foram descascados deixando a estrutura aparentes, grandes painéis divisórios em madeira foram armonizados com móveis e bancadas de aço escovado, neutralizando os eletrodomésticos, o piso original de parquet foi mantido e paredes e forros foram revestidos com placas cimentícias com parafusos aparentes. Esta composição de cinzas, madeiras, pretos e brancos, criaram uma base neutra para receber os grandes protagonistas que são as obras de arte e móveis de família.
A cozinha toda em aço com uma grande mesa em madeira clara é dividida por uma viga que suporta um cavalo alado em ferro , obra do artista gaúcho Caé Braga, mas esboçada por Cláudio Araújo. Esta ilha em aço e madeiras foi desenhada especialmente para receber as cadeiras Bertóia que estão na família a quase 60 anos.
No estar, onde no projeto original iria uma lareira, o grande nicho foi contornado por um requadro preto em L, para receber a escultura de um dos guerreiros de Xico Stockinger, e ao seu lado um retrato de Cláudio Araújo em aquarela junto a uma Tela de Tadeusz Lapinski. Isso tudo convivendo com um remo dos índios Tikuna ao lado de Volpi e de outros retratos pintados da mãe e do pai. A mobília conta com duas poltronas azuis da década de 70 assinadas por Cláudio Araújo que formam uma espécie de disposição em círculo com um sofá contemporâneo claramente inspirado no mobiliário dos anos 50 de Vladimir Kagan e a italiana Delfino de Erberto Carboni. Tudo isso disposto sobre uma composição de três peles bovinas tingidas de cinza.
E por fim, com vista panorâmica para o lago Guaíba está o quarto onde a cabeceira é formada por um grande painel de madeira que divide o closet e onde se embutem dois painéis deslizantes que separam o quarto da sala quando necessário. Na extremidade oposta se dispõe uma zona multifuncional, com um longo balcão em madeira suspenso sob uma parede de painéis cimentícios onde fica a TV e também a bancada da pia que marca a entrada do banheiro dividida por uma porta deslizante. Porta esta que se estiver aberta proporciona um banho lindo com vista para o lago, a catedral e um dos nossos mais antigos cartões postais, o por do sol de Porto Alegre.
